O primeiro-ministro búlgaro, Rosen Zhelyazkov, renunciou ao cargo nesta quarta-feira, após semanas de protestos massivos liderados por jovens que tomaram as ruas de Sófia e dezenas de outras cidades. A queda de seu governo de centro-direita ocorre a poucas semanas da entrada do país na zona do euro, marcada para 1º de janeiro.
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A decisão foi anunciada em pronunciamento televisionado minutos antes de uma votação no Parlamento sobre uma moção de desconfiança que ameaçava derrubar a coalizão minoritária. Zhelyazkov afirmou que a renúncia foi uma resposta aos protestos, que classificou como um movimento “contra a arrogância” e “por valores”, unindo diversos setores da sociedade búlgara.
Os manifestantes, em sua maioria jovens da chamada Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012), mobilizaram-se inicialmente contra um controverso projeto orçamentário para 2026, que propunha aumentos de impostos e contribuições. Apesar do recuo do governo na proposta, os protestos se mantiveram, canalizando uma indignação pública mais ampla contra a corrupção endêmica e a incapacidade de sucessivos governos em combatê-la.
O movimento na Bulgária insere-se em um contexto global de ativismo político liderado por jovens, que já resultou na queda de governos em países como Bangladesh, Nepal, Sri Lanka e Madagascar, e tem pressionado autoridades em nações como Sérvia, Filipinas e Peru. Caracterizados por um amplo domínio de ferramentas digitais, esses grupos têm desafiado estruturas de poder, autoritarismo e desigualdade econômica.
Em frente ao Parlamento búlgaro, faixas exibiam slogans como “a Geração Z está chegando” e “Bulgária jovem sem máfia”. A manifestação, que começou de forma pacífica, terminou em confrontos entre jovens e forças de segurança.
A oposição celebrou a renúncia como um primeiro passo. Asen Vassilev, líder do partido Continuamos a Mudança, defendeu a realização de “eleições justas e livres”, sem as manipulações que, segundo ele, marcaram os últimos pleitos. O país realizou sete eleições nacionais nos últimos quatro anos, refletindo profundas divisões políticas.
O presidente Rumen Radev, que já havia pedido a renúncia do governo, dirigiu-se aos parlamentares em uma publicação nas redes sociais, conclamando-os a ouvirem “a voz do povo”. De acordo com a Constituição, caberá a Radev agora tentar formar um novo governo com os partidos existentes no Parlamento. Caso a tentativa fracasse, como é amplamente antecipado, será nomeado um governo interino para conduzir o país até novas eleições.
O gabinete de Zhelyazkov permanecerá em funções até a eleição de um sucessor, em meio a um cenário de incerteza que paira sobre a transição para o euro e o futuro político de uma nação que parece encontrar uma nova força contestatária em sua juventude.
