Uma simples expressão de final de ano se tornou o estopim de mais um conflito político nas redes sociais. A campanha publicitária das Havaianas para as festas de fim de 2024, protagonizada pela atriz Fernanda Torres, foi interpretada por setores da direita brasileira como uma mensagem política velada, resultando em ampla crítica e convocação de boicote à marca.
A origem da polêmica
O ponto central está em um trecho de cerca de 30 segundos do comercial. Nele, Fernanda Torres diz: “Eu não quero te desejar que você comece 2026 com o pé direito. Eu quero te desejar que você comece com os dois pés”. A fala substitui o ditado popular que associa o “pé direito” à sorte por um incentivo a entrar no novo ano com “ação” e “presença”, segundo o contexto da peça.
Para políticos e influenciadores conservadores, a escolha de palavras não foi inocente. Eles leram na rejeição ao “pé direito” uma metáfora política, interpretando-a como uma crítica indireta a grupos ou ideais associados à direita no espectro político brasileiro.
A reação em cadeia
A interpretação se espalhou rapidamente.Parlamentares alinhados ao bolsonarismo usaram suas plataformas para atacar a marca. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) fez um trocadilho com o slogan “Havaianas: todo mundo usa”, afirmando que “nem todo mundo agora vai usar”. O deputado Rodrigo Valadares (PL-SE) classificou a ação como “campanha política explícita” e sugeriu marcas concorrentes.
A narrativa foi amplificada por uma rede de influenciadores digitais conservadores, que acusaram a empresa de “ideologizar” um produto de consumo massivo. Apesar da dimensão da polêmica, a Havaianas e Fernanda Torres mantiveram silêncio público sobre o assunto.
O contexto ampliado
O caso reflete um fenômeno mais amplo:a politização extrema do consumo e a disputa por símbolos culturais em um país polarizado. A Havaianas, por sua trajetória de sucesso e sua associação com a identidade brasileira, torna-se naturalmente um alvo neste tipo de disputa narrativa.
O episódio não é isolado. Segue uma sequência de reações semelhantes contra outras empresas e veículos de comunicação, como o recente boicote proposto contra o SBT após a participação de autoridades de esquerda em um evento. O padrão indica que marcas consolidadas no imaginário popular estão, cada vez mais, navegando em um campo minado de significados políticos.
